sexta-feira, 30 de abril de 2010

Última hora: livros de George Steiner estão a ser usados como analgésico no serviço de pediatria oncológica do Hospital de Santa Maria

No domínio mental onde procuro situar a concentração respiratória de todos os meus poros, sou cada vez mais acossado por dificuldades estruturais apresentadas pela realidade onde me situo, isto é, tenho tido dificuldades em adormecer perante a combustão imediata, mal afundo os cabelos oleosos na almofada branca, de um carrocel de ideias feridas por imprecisão sentimental, rigor estético e uma ambição ultrajante que é, em suma, uma incomodidade violenta com o meu universol mental, entidade tirância, despótica, com sapatos de fivela e cabeleira de rolos, de quem estou, literalmente, cheio. Se leio um jornal, entorpeço. Se abro um livro, sou humilhado. Se ligo a televisão, entorno a chávena do café nas calças vincadas. Todos estes problemas devem ser imputados a mim mesmo, e apenas a mim mesmo, uma vez que não existe outro responsável de mim mesmo que não seja eu mesmo. Embora me tenham falado de um corvo zarolho, ou seria um cão preto de tres patas? A verdade é que isso agora não interessa. Porém, não deixo de sentir uma brisa interior que quer soprar a responsabilidade destas dificuldades sobre uma outra personalidade, mais sombria, mais esquisita, mais defensora de políticas de reducção das prestações sociais, mais adepta de toldos listados, mármore axadezado e estátuas de gesso, estações periféricas, quiosques de jornais encimados por uma bandeira branca, esplanadas com cadeiras de ferro pintadas de verde, comboios que passam incandescentes carregados de mercadorias, gaivotas escanzeladas com o bico descolorido, janelas com grandes e outras instituições decisivas. Por outro lado, tenho pensado em administrar a mim mesmo uma boa dose de analgésicos, mas entretanto foi-me comunicado por escrito - um marco na arte de produzir bulas em forma de aforismo - que «a ciência não chega aonde dói.» Talvez a principal característica da modernidade, logo a seguir à compulsiva absolutização da ciência - normalmente levada a cabo por praticantes olímpicos de uma imponente e monumental ignorância científica - seja a absoluta relativização de tudo, incluindo os prodigiosos contributos da ciência para a atenuação substancial do sofrimento metafísico desses atletas olímpicos da ignorância, sofrimento que é em grande medida o resultado de práticas pseudo-labiríntico-libidinosas, desocupação e uma preguiça ancestral perante o rigor, tudo mascarado com o traje da inquietação metafísica e bem servido sob a capa de um académico inglês que tem sobre o seu tempo a visão que têm dodos os sacerdotes: incomodam-se com o mau cheiro, desconhecendo que o mau cheiro provém precisamente do seu bolorento e apodrecido aparato escolástico da realidade. Ainda assim, não tem doído muito e a ciência, graças a deus, tem chegado para verificar o funcionamento do mecanismo mental. Enchemos o peito de ar, sopramos algum alcatrão misturado com o polén primaveril e vamos riscando tracinhos na parede, até perfazer a contagem que dizem estar inscrita no livro secreto do nosso código genético, isto se entretanto não formos solucionados por um caminiosta embriagado a caminho de Nice, com um carrgamento de queijos de Niza. O comentário de Miguel Esteves Cardoso, no Público de hoje, caracterizando a filosofia defensiva do Inter em Camp Nou, foi um dos momentos genesíacos da minha biografia intelectual. Não me lembro de outro momento constitucionalmente tão fundador, pelo menos desde o minuto em que António Veloso puxou as meias, cofiou o bigode, e atirou à figura de Van Breukelen, na humidade cruel do relvado de Estugarda. «Without Diamantino at their disposal, Benfica played in a negative style with eleven men behind the ball for the majority of the game. PSV had most of the possession, but they were unwilling to commit too many men forward and the game lapsed into sterility.»
Esterilidade é um grande título para um romance, se o romance ainda fosse alguma coisa capaz de despertar a mínima reação capilar. Conrad e Copola enganaram-se. O problema não é o horror, o horror, é a esterilidade, a esterilidade de tudo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A derrota na bola preta



e este post sobre o mourinho. bom fim de semana.

Estava a falar do Tony Blair mas bem podia ser o Sócrates

"It is not so much that he is economical with the truth as that he lacks the normal understanding of it.(...) The result was that whereas in the past lies were an intermittent feature of government, under his leadership they became integral to its functionings". John Gray in Black Mass.

Os meus agradecimentos ao comentador que me indicou o livro, num post algures perdido nos arquivos desta chafarica.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Utopia ou corrupção, eis duas potenciais respostas

à pergunta gritada por Paulo Portas: "Porque é que não se cancelam os projectos do TGV e do novo aeroporto de Lisboa !?". Uma resposta possível será que a clique do arco governativo (PCP-PS-PSD-PP) acredita no investimento público como motor da economia. Crença permanentemente desacreditada pela realidade.

Por outro lado, se eu fosse cínico diria que já foram untadas as mãos de demasiada gente para se poder voltar atrás agora sem incorrer numa revolta das clientelas dos políticos eleitos. Algo que o Paulo Portas conhece muito bem.

Os funcionários da assembleia da república estão em greve.

Abençoados.

A situação é desesperada mas não é séria

Parece que Portugal está a caminhar a largos passos para o abismo. Há anos que andamos a caminhar para o abismo. Portanto ou já lá estamos ou o abismo é longe cumócaraças. Se não for pedir muito, façam uma pausa na caminhada entre as 19h45 e as 21h45. É que eu gostava de ver o Barça vs Lo Speziale em paz. Agradecido.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ricardo Soeiro, aluno do IST, discursou ontem e pediu o seguinte

Ó, Cavaco, e que tal vetares temperaturas superiores a 24ºC?...

Ia escrever um post espectacular



...mas já não vou.

A economia do ressentimento católico: uma censura e duas recomendações

Marco Tardelli refere que na hora do golo, quando escorrega e mesmo assim lhe resta força melancólica suficiente para disparar a bola para o fundo das redes, sentiu aquilo que dizem suceder na hora da morte: revisão da vida e das expectativas de criança. Tardelli não hesitou e, mesmo em queda, foi ainda o jogador concentrado no seu objectivo. É por isto que o futebol é muito mais importante, pedagogicamente falando, do que a literatura. É verdade que entre os comentadores profissionais ainda existe uma certa confusão sobre o papel da inspiração no futebol, problema já solucionado pela literatura há um século e meio. No que me diz respeito, basta ler a coluna de João César das Neves no DN para que desça sobre mim a pomba do espírito, com seu dardejar de asas doces, e me leve a planar sobre as alturas seráficas da contemplação e da paz, país onde brotam as fontes da inspiração. Oráculo do Senhor. Eu já sabia que isto iria acontecer. Isto o quê? Procuremos colocar o problema. Com as críticas demolidoras do século XVIII e XIX ao obscurantismo mental dos indivíduos – críticas essas decorrentes da própria modernidade política e económica – mais tarde ou mais cedo, o homem teria que confrontar-se com a sua finitude e dar uma pirueta. Se essa pirueta evoluiria progressivamente ou à rectaguarda era a grande questão que permanecia (e permanece) em aberto. A transformação social é uma coisa complexa, não será necessário relembrar, pelo menos para aqueles que não acreditam no papel dos pastorinhos de Aljustrel (Concelho de Fátima) na história europeia do século XX. E quem conhece um pouco da história da Europa sabe como as transformações subterrâneas partem dos próprios fundamentos orgânicos das sociedades. Ou isto, ou a vara de Moisés, o sopro invisível dos caminhos insondáveis e o camandro. Prefiro isto. (De qualquer forma ainda gostava de saber como se harmoniza o Orçamento Geral do Estado como aquela passagem dos passarinhos). Aiante. O problema é que explicar o motor biológico que leva uma célula a dividir-se, a partir da sua própria informação genética, é muito mais fácil do que explicar porque razão uma asa cresce num dado sentido funcional, como resultado da competência mecânico-reprodutora de um ser-vivo. Se quisermos entender fenómenos sociais, o caldo está definitivamente entornado, pelo que já era tempo de reconhecer a nossa ignorância, não desesperando, mas começando a trabalhar com humildade e muito rigor. Tentemos alguns tópicos soltos. Coisas tão banais como o relógio mecânico foram responsáveis por uma demolição dos ritmos cristãos da existência. Na galeria das recordações saudosas pode referir-se o sino, e sua marcação do tempo, decalcada da liturgia das horas (alguns de nós ainda se lembram de ouvir pessoas mais velhas dizer «à hora das trindades» ou utilizar o conceito de «matinas», e lembramo-nos porque portugal, nem teve reforma protestante, nem se industrializou verdadeiramente até aos anos 50/60 do século XX). E que dizer sobre toda a literatura que explica como o mercado operário e as necessidades da indústria alteraram a organização da casa e a estrutura da família? Contudo, para o Professor César das Neves (e aqui me inclino respeitosamente como diante do sacrário onde repousa o sacratíssimo corpo de nosso senhor Jesus Cristo) a destruição da família é obra de um monstro chamado José Sócrates. E todos nós trememos nas nossas cadeiras, recolhemos no regaço protetor de um braço forte e saudável - como o asa do espírito - a carne inocente das crianças, nós, horrorizados com a hidra socialista que mergulha, na lama hedionda da perversão, a bondosa família natural, essa instituição que viveu durante 300 anos de forma espectacularmente harmoniosa com a economia de mercado, qual cordeiro mamando no úbere de sua mãe, até à chegada do monstruoso engenheiro da Covilhã, balouçando o seu balde de ordenha e sorrindo sinistramente para o pastor gay que ronda as imediações do curral divino.
De acordo com o Professor Catedrático da Universidade Católica (é favor não rir) «Desde 2007, a mortalidade ultrapassou a natalidade. Portugal é o país com menor fertilidade na Europa ocidental, das mais baixas do mundo. Esta catástrofe demográfica faz de nós um povo em vias de extinção e ameaça a nossa herança e cultura. O número de divórcios é mais de metade dos casamentos, enquanto a coabitação precária e os filhos fora do casamento explodem, gerando lares esfarrapados, insucesso escolar, depressões, miséria, crime.».

Não é possível continuar a ignorar este quadro, digno de um prospecto das testemunhas de Jeová, mas apimentado com o impulso racionalista da economia clássica. O professor César das Neves - dr. Jekill and Mr. Hyde do profetismo económico-espiritual – ainda não compreendeu (e seria bom que um dos seus confessores lhe explicasse, rapidamente: se não existir nenhum disponível, eu próprio posso dar uma aula a título completamente gratuito) que a destruição da família, que ele contempla horrorizado, virando-se para o seio protetor de Maria, estrela da manhã, é apenas o corolário da «modernidade». Sim, da modernidade. A mesma que trouxe a divisão do trabalho (ai, a mulher), a mercantilização das relações sociais (ai, os mosteiros e a estrutura da terra), a concorrência como factor de progresso (ai, a lealdade do casamento), o consumo como motor do desenvolvimento (ai, a apologia do sacríficio e a condenação da lascívia), a monetarização da economia (ai, a tradicional lentidão dos laços sociais). Professor César das Neves, será preciso falar da importância da pornografia na sustentabilidade dos mercados em empresas como a Vodafone ou a Google? Também me parece que não. Com toda a sinceridade, apenas à luz da escuridão pré-histórica e cavernosa de uma fé boçal se entende que um economista possa desconhecer a estreita relação entre demografia e padrões de consumo. José Socrátes, como é evidente, não é um monstro. É, quanto muito, um organizador da paródia.

Na verdade, eu já sabia que isto iria acontecer. Isto, o desespero dos mais descontentes com a sua própria competência - intelectual e mentalmente falando – que perante a crise da modernidade se viram para a primeira banha da cobra estendida ao virar da esquina. Em Portugal, a primeia banha da cobra da esquina é, inevitavelmente, a Igreja Católica e a sua secular capacidade de criar sentidos para o mal que não compreende. O problema é que a sua estrutura profissional de sacerdotes (cada vez mais anacrónica) vai colidindo com o mundo em movimento (até aqui, o professor Neves ainda chega, uma vez que leu uns livros de economia). O problema é quando se torna necessário entender. Aí, quase sempre, os mugidos metafísicos tornam-se ensurdecedores, neste túnel de uma velha dor, para parafrasear um publicitário conhecido, e levam na enchurrada do medo qualquer tentativa de compreender o comportamento racional dos «players», indivíduos que, estranhamente, se revelam tão rcionalmente racionais no mercado dos produtos financeiros e das remunerações por objectivos e se tornam, com abominável surpresa, filhos irracionais do demónio, na hora de tomarem decisões no mercado da prática abortiva ou na hora de se posicionarem perante a oferta, manifestamente escassa - mas, graças a Deus, crescente -, no domínio das parceiras sexuais. Quanto a consequências reprodutoras, a diminuição demográfica pode ser entendida numa prática - bastante aconselhada por todas as instituições de rating -de privatização dos impactos amorosos e de contenção de custos. Gastar dinheiro em fraldas, numa conjuntura em que os risco de incumprimento subiram a níveis históricos? Limpar o cu a meninos, numa conjuntura de necessidade de novos conceitos de negócio? Receber no colarinho engomado o bolsado branco do recém-nascido numa conjuntura de indispensabilidade de afirmação da imagem positiva no âmbito da concorrência internacional?
p.s. e não me venham com os engomados da Lapa com suas mil crianças, que esses pagam bem as empregadas da Amadora que lhes preparam as refeições da semana, lhes engomam os fatos e voltam em autocarros suburbanos, de cu tremido, enquanto os filhos delas apalpam as filhas deles e lhes surripiam trocos, alegremente divertidos, uns e outras, em centros comerciais da periferia patrocinados pela cristianizada e familiar Sonae.
Quanto ás recomendações:
1) Esvaziar a casa de qualquer artefacto que lembre, vagamente, a relação estreita entre sexualidade e objectos em forma de cruz onde está dependurado um indivíduo semi-nu com pingos de sangue.
2) Doar a Timor toda as encíclicas, biografias da Irmã Lúcia e livros de Aura Miguel e iniciar a leitura e estudo das obras completas de Kant: se é para ser cristão ao menos saibam sê-lo com higiene mental.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um dia vais achar que ter estilo é alinhavar umas graçolas para consumo de adolescentes imbecis a fim de vender um qualquer produto manhoso



Quando esse dia chegar estás fodido.

Aristocrata, demasiado aristocrata.

No mais recente livro de Mário de Carvalho existe uma desvalorização da «bola», alinhada numa crítica mais genérica da classe média portuguesa e sua hipotética câmara de horrores - o servilismo, a ignorância, a complacência, a tibieza, a calvície, o mau hálito, a corrupção, a transpiração, etc. O problema dos vendedores de livros (e outros detergentes) é não terem ainda percebido não ser possível escrever sem ter uma voz humana, sem ser ridículo às criadas de hotel. Ir à bola é vil? É. Como transpirar e limpar o rabo após irrevogável operação de higiene digestiva. A salvação artística não está em vestir luvas de seda e apontar os alunos porcos da turma: o Pires cheira mal da boca; o Tó-jó é gordo: o Elmano é zarolho; a Mi-Zé é galdéria. A salvação artística está em vestir luvas de seda e esbofetear a turma toda com a elegância de uma condessa russsa nos últimos dias do regime czarista.

Marco Tardelli 2

Na ponderação de vários problemas - entre os quais, a possibilidade de construir uma teoria da importância de Marco Tardeli para a expressãp pós-moderna da dramaturgia - fui interrompido por uma das mais desconcertantes e recorrentes inconsistências do trabalho doméstico: imagine o leitor aquele momento em que, quando damos início à passagem da esfregona por uma superfície lisa - previamente varrida -, nos deparamos com inúmeros micro-objectos que confirmam um facto irrevogável: efectivamente, a superfície não estava eficientemente varrida. Nada mais odioso do que assistir a vestígios de vários organismos arrastando-se no vendaval centrípeto de uma esfregona oliosa. Vem isto a propósito de mais um vídeo promocional no mercado literário - INSTANTE FATAL: Elogio a Filipa Martins - que o caro leitor não pode deixar de observar porque confirma um novo caso mental, cujo estudo se impõe com a força da necessidade migratória da andorinha. Quanto a Pedro Arroja, não discuto que possa constituir um desafio intelectual. Toda a realidade - desde Sá Leão, passando por Tamagini Néné, até chegar ao teclista dos Gift - pode constituir um estímulo ao pensamento. O problema está na medição dos resultados desse estímulo. Ninguém nega que existem conteúdos estimulantes dos globos oculares tanto em Manuel Luís Goucha como em Cristiano Ronaldo. Ambos enriquecem a nossa ecologia mental. Contudo, de um ponto de vista da tipologia masculina e da relação com a tradição clássica e a importação dos mais recentes contributos da modernidade, parece não constituir problema reconhecer a supremacia do futebolista a evoluir nos relvados espanhóis. Não faço aqui juízo de valor. Apenas chamo a atenção para as nuances decisivas com que talvez fosse benéfico nortear a condução intelectual da nossa vida. Não quero ser paternalista. Deixemos os homens bonitos para as mulheres sem imaginação (porque será que isto soa muito melhor nesta versão invertida?). Em todo o caso, reconheço que Pedro Arroja não é Henrique Raposo. O primeiro escreve com correcção. O segundo ainda não acabou de ler os livros recomendados no programa de Português B do 11º ano.

domingo, 25 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Marco Tardelli



e até daqui a um mês.

Hipótese f) nenhuma das anteriores

O Pedro Arroja é maior, vacinado e já tem idade para ter juízo. A ideia que tenho dele é a de um provocador, constantemente questionando o senso comum e a verdade estabelecida. O Pedro Arroja não é o Henrique Raposo, e isso já é dizer muito.

Pedro Arroja é aquele indivíduo que consegue fazer prova, em duas frases, de uma olímpica ignorância do real (com Deus,sem Deus ou por Deus)

Alegadamente, isto representa uma descrição - (a) irónica; b) plasmada segundo os fundamentos antropológicos da economia clássica; c) desconcentrada; d) embriagada; e) distraída - das principais características de uma sociedade socialista. Nós, que não sabemos nada, estimamos muito o Pedro Arroja.

Não acabou, apenas se transfigurou

O Pedro Arroja decidiu parar de escrever no Portugal contemporâneo. Apesar de discordar de quase tudo o que escreveu, era dos poucos na blogoesfera que tinha o dom de não me deixar indiferente. Falta gente assim, que provoque o pensamento.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Onde existe um académico existe sempre uma prova irrefutável da existência de Deus

Sem querer ser desagradável - embora a referida acção possa constituir uma prática a que não me furto sempre que a ocasião o exige - não percebi o brilhante e espectacular raciocínio de Pedro Arroja (ver comentário em baixo), um indivíduo que, por certo, está nomeado para o prémio nobel do comentário desconchavado.
P.S. Não sei se já partilhei a minha mais recente profecia: ou muito me engano - e eu engano-me muito - ou a União Europeia não sai desta moscambilha económica sem uma guerra daquelas, como se diz? isso mesmo, «à antiga europeia», com invasões em solo civilizado, campos repletos de indivíduos enfezados, debroados a espirais rendilhadas de arame farpado e muitos planos de recuperação esgalhados em secretárias construídas com Bétulas das montanhas do Wyoming.

Se calhar as ciências sociais de ciência não têm nada

Contam-se pelos dedos uma mão e ainda sobram dois, o número de livros que li em que existe uma discussão honesta sobre a relação de Deus e a ciência. Está claro, eu leio pouco mas não deixemos que este pormenor nos desvie do essencial. Deus está ausente dos modelos científicos porque caso contrário não seriam modelos científicos. Seriam meras listagens de superstições, macumbas e feitiçarias. Se se aceita Deus como a explicação para os fenómenos naturais que se observam, a ciência deixa de existir. Idem para a matemática.

Literatura e uma islandesa esquisita - mas bonita - como ilustração do final do cap.º 6 do vol. 1 das minhas obras completas





«Quando passaram o portão, a noite abrira o seu ventre escuro e era a primeira luz da madrugada, onde dardejavam ainda os longínquos círios alimentados pela poeira estelar, quem recebia os dois rapazes, embora o céu permanecesse indiferente às oscilações íntimas destes dois pobres habitantes de um país perdido, apenas de muito em muito tempo atravessado pelo sumptuoso comboio dos dias fáceis. António Urze mergulhara na habitual tendência introspectiva, ainda surpreso pelo efeito produzido pelas palavras de uma desconhecida, devastação interior nunca alcançada por milhares de horas de auto-comiseração ou um cultivo esmerado da vitimização, duas actividade a que se entregava, habitualmente, de bom grado e com uma secreta aspiração de morte. Agora, alimentado pela força misteriosa dos protagonistas improváveis, o jogo tornara-se perigoso. Como se o distanciamento daquela mulher idosa, perante o objecto em causa (o seu coração dividido) - afinal, aquela velha pedante nunca tivera o prazer de o conhecer -, reforçado pela hipotética imparcialidade do observador desinteressado, se transformasse num muro intransponível, uma muralha, uma sala tenebrosa ostensivamente ornada de civilização, onde um embaixador protegido por luvas de pelica, bengala de alabastro e sabre de prata, se revestia de uma autoridade intangível aos olhos do nativo (pobremente chamado António), apenas munido com seus colares de conchas e dardos talhados em espécies arborícolas autóctenes, vergado perante uma soberania que o habitante do país colonizado sabe nunca ser possível fragilizar, ignorando a origem de poderes estrangeiros a que se inclinou a cabeça durante toda uma vida. Este aborígene nu e envergonhado, este Adão cada vez mais afastado do jardim das delícias, foi o primeiro a estugar o passo a caminho da estação de Cascais (cerca de trinta minutos a pé do local onde se encontravam) deslizando lesto entre as copas dos pinheiros e o estridente rugir pendular das ondas.
Ao lado do triste e abatido António Urze, caminhava o radiante e eufórico Pedro Fabriqueiro, ziguezagueando com sistemático acerto, desacerto, acerto, seguindo a linha fosforescente da estrada e calculando conceitos capazes de condensar uma cada vez mais incontrolável e inexplicável alegria, um burburinho doce, uma fanfarra silenciosa - com rufares de prazer espiritual e clarins de plenitude física - fazendo escolta ao batimento apressado do seu coração, uma consistência psicológica a nada comparável, a não ser, talvez, à serenidade quente de uma vela alagando de luz um oceano de trevas. Pedro Fabriqueiro projectava o fogo artifícioso da sua felicidade, sem se preocupar com definições sobre a natureza do seu estado, nem procurando fazer a crítica (mesmo que justa) da sinfonia que, para já, fazia as delícias do único espectador luxuosamente instalado no grande teatro da sua memória: ele próprio. E nesse palco, violenta e totalitariamente aceso de holofotes, armado de cortinas de damasco e mil papelinhos de celebração - enxameando o céu do desejo com os pássaros alados da satisfação -, aparecia o rosto bronzeado, doce e virginal, de Constança, na limpidez terna, infantil e perversamente sedutora que têm todos os rostos das adolescentes tardias, onde a vida ainda não cravou as garras sanguíneas da desilusão.»

Nunca fui à Islândia (nem tenciono ir)

Um dos meus maiores atributos é a capacidade de estabelecer limites à minha fulgurante competência e, como tal, não medirei sequer um pelo púbico do vulcão que tanta tinta tem (ora aí está uma figura retórica de que não consigo libertar-me) feito correr nestes últimos dias que (como diria uma testemunha de Jeová ou um católico apostólico romano) parece que são os últimos. Pedro Lomba não manifestou igual capacidade e hoje perora sobre o facto de «não sabermos nada» sobre estas difíceis circunstâncias de vivermos ameaçados por uma natureza hostil. É, aliás, e criticamente falando, assaz curioso constatar que só não sabemos nada quando parece ser conveniente sabermos que nada sabemos. Já a propósito da relação entre mercados financeiros e desenvolvimento integrado das sociedades modernas, parece que sabemos tudo o que haveria para saber entre a linha do equador e aqueles espaços meta-gelados, onde sarapateiam (consultem o dicionário de mirandês) raparigas esquisitas - mas bonitas - e indivíduos logicamente propensos ao suicídio: o que haveriam de fazer indivíduos do sexo masculino rodeados de gelo e raparigas bonitas mas esquisitas? Na verdade, como tenho anunciado continuadamente - para o caso de um dos meus leitores estar a pensar escrever um livro nas próximas décadas - não tenho tempo, isto porque estou a laborar nas minhas obras completas, e garanto desde já que não são nem «sonetos a Cristo», nem elaborações sobre cidades rurais encomendadas por um grande grupo de venda a retalho do tecido económico português. Posso apenas avançar que já tenho cinco cadernos manuscritos e a tendência é para aumentar o número de palavras cuidadosamente retiradas do fundo do poço. Sabei, leitores, que não partilho: a) nem da complexidade forçada - que, embora estilizada, incorre no pseudo-auto-elogio-da-inteligência-académica, e abunda nalguns dos melhores bloguistas, embora os admire com a profundidade dos meus dois pulmões abertos; b) nem da estafada tendência para considerar a simplicidade da língua e o trabalho de corte das primeiras versões como uma regra sagrada dos clássicos instantâneos (uma das expressões, forjadas pela crítica, mais estúpidas, dos últimos trinta anos), opinião onde não me encontro sozinho - como diria uma natural da Serra da Estrela - pois parafraseando Nabokov, «A mamã é simples. O Jornalês é simples. Os resumos são simples. A porcaria é simples. Mas os Tolstóis e os Melvilles não são simples.»

terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma questão

Entre rimáticas (talvez esta palavra não exista mas o meu ócio momentâneo entre o facebook e as páginas dos apontamentos de matemática II permitiram-me tal criação) e teológicas prosas neste aparelho que é a internet (uma espécie de conversas das aldeias do norte provinciano em que toda a gente sabe a vida das outras 3000 pessoas da aldeia) surgiu-me uma questão, e peço a vossa ajuda: o que é, ao certo, um administrador não-executivo???

sábado, 17 de abril de 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Jesus lol



Com efeito, nós não andamos aqui a fazer nada

A última vez que falei sobre este assunto (qual assunto?), passavam sobreiros vertiginosos na janela direita do automóvel e suspiros de nuvens corriam a caminho do paraíso meridional da costa de África. Não é fácil coordenar a condução de um veículo motorizado com a articulação de conceitos tais como «mediatização», «criatividade artística», «registo individual», «campo semântico», «caminho próprio», «luta pela sobrevivência», «auto-exigência», «espectativa de silêncio», selecção natural do mercado literário»; isto entre dúvidas sobre qual o melhor itinerário (numa perspectiva de esscassez temporal) entre o Feijó e Aljezur, uma vez que a partir de Grândola a questão se torna (ou torna-se) particularmente embaraçosa. As declarações de Filipa Martins, em torno do seu espiralado Livro, confirmam o meu gosto em rebolar na lama da irrelevância e em insistir na audição da canalha. Já sei que estou neste momento transformado num holofote que empresta brilho falso a um títere feito de cinza e plástico de baixa qualidade. Mas que querem? Humano, demasiado humano.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Durante as duas horas que estive de pé na repartição das finanças

à espera da password de acesso ao site online, não encontrei nenhuma justificação válida para as greves dos transportes públicos. Hoje foi a malta da margem sul que teve que se amanhar para poder vir para Lisboa esgravatar meia-dúzia de tostões. O pessoal dos TST e da CP são contra o PEC. Tudo, bem somos todos. A maltoza dos TST e da CP querem melhores salários e condições de trabalho. Sim, não podia estar mais de acordo. Agora o que eu não consigo perceber é que pretendem com as greves, para além de lixar a vida aos desgraçados que utilizam os transportes públicos.

Ocorreu um erro na submissão da declaração. Por favor tente novamente

Segundo parece, Portugal é um dos mais avançados países na área do e-government. Isso não espanta. No que respeita a virtualidades, este governo tem sido um espetáculo. Em realidades é que a coisa tenda a não funcionar tão bem.

Ruy Belo

Foto de familia



Retirado do não menos espectacular site I hate my parents

terça-feira, 13 de abril de 2010

Está um tonto de fato a dizer que a culpa do jogo foi do arbitro e que o luisão nao foi expulso e o izmailov sim e que exige respeito pelo sporting

Logo a seguir já está outro tonto a dizer que o sporting não tinha nada que fazer isto. O futebol em portugal é uma merda e perdoem-me porque são 23h20 e hoje até me esqueci que tinha que almoçar. Deve ser da falta de açúcar.

Jesus dixit

"O sporting não deixou a gente, a gente diga-se a equipa do benfica"

O Carvalhal parece uma cassete a repetir que tem uma boa equipa e com valor

Entretanto o Desportivo de Chaves com apuramento inédito para a final

O Relógio de Pé

Pergunta, o caro leitor, qual seria a única matéria capaz de me ressuscitar da letargia nevrálgica em que estou mergulhado há mais de trinta e três dias? Só podia ser, naturalmente, um relato mímico-lúdico da mulher do Dr. Pôncio Monteiro, rodopiando tenebrosamente na penugem persa do tapete da sala (sob a observação geladamente suiça de um relógio de pé e a consideração servo-vegetativa de uma criada de casa, ornada com uma bata azul e cabide de uns castos óculos de massa), relato que procurava descrever o calvário médico-biográfico do conhecido ex-dirigente do Futebol Rúben Micael, e actual comentador desportivo num canal de televisão que agora não quero recordar, no momento em que sofreu a explosão mental (inaceitável) de um aneurisma, prontamente solucionado por um neurocirurgião, cínicamente, adepto de um dos dois clubes da segunda circular ao perímetro urbano de Lisboa. Note-se, a talhe de foice, que esta denominação pode levantar dúvidas nos espíritos mais escolásticos, uma vez que o perímetro urbano, dadas as complexas definições da Geografia e da nova ciência de polícia, é matéria de grande polémica académica. Em todo o caso, a mulher do Dr. Pôncio Monteiro contou, no meio de um vendaval emotivo, perante a estupefacta mas não surpreendida Judite de Sousa, como obrigou «Nosso Senhor, a dar-lho por inteiro». A dar-lho - o Dr. Pôncio, claro. Após esta emociado confissão, em que se misturaram visões místico-médicas (houve orações de Nova Iorque até ao Rio de Janeiro), e confissões cruas («Não foi por isso que me deixaste de moer a cabeça») ficámos a saber que o grupo do Alterne (jogadores de Golfe amigos do Dr. Pôncio com mais de setenta anos e menos de setenta e sete) espera com grande saudade o regresso ao green do famigerado jogador. A bela sociedade portuense saúda a franca recuperação de um dos seus mais ilustres membros e congratula-se pelo feliz desfecho de tão lamentável caso.

O Crucible começa já no próximo fim de semana

Entretanto uma grande entrevista a esse senhor do snooker Steve Davis.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Há dias assim

O pessoal da CP fez greve porque sim. O fim-de-semana esteve solarengo e a segunda-feira acompanhou. Nada como greves à sexta ou segunda. O metro de lisboa tem uns bilhetes electrónicos todos catitas, verdes e tal. Ás vezes, uns desgraçados ficam presos dentro da estação porque a porcaria das barreiras não querem ler bilhetes electrónicos todos modernaços. Três vivas para a tecnologia por mandar para o desemprego o tipo que, se estivesse na estação a coçar a micose, me poderia ter aberto a porta e trocado o bilhete. Em vez disso mandaram um aprendiz de Bruno Alves ralhar com o segurança que se preparava para me tirar dali. Não fosse a profunda sensação de bem-estar proporcionada pelo demorado vislumbre do decote da moça no balcão de informações dos expressos e teria gasto o folar da Páscoa numa Barret M107. Para caçar pardais nas imediações das atrás referidas empresas públicas.

E porque se trata de uma dupla derrota

Romário: “A história foi que eu tinha tido relações sexuais com uma aeromoça (hospedeira) antes do jogo com o Uruguai, pelas eliminatórias, em Montevideu. Aliás, foi o único jogo que fiz pela selecção com o Felipão. Isso foi em 2002, e hoje estamos em 2010. Poderia muito bem dizer que isso tinha acontecido. Mas não aconteceu. Se fiquei fora da Copa por causa disso, perdi duas vezes. Não fui à Copa e não comi a aeromoça, que era a maior gostosa.

via Arrastao

Perdoai-lhes Senhor porque não sabem fazer estradas

Depois de uma semana santa em termos de transito, voltou o calvário.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Wish list

Coisas que m'atormentam

Num raro momento de dolce fare niente dei por mim a ver no telejornal uma notícia sobre uma conductora que atropelou no Terreiro do Paço três pessoas. Matou duas, a outra ficou incapacitada. De acordo com a notícia, a condutora não mostrou qualquer remorsos ou sentimento de culpa pelo sucedido.

A parte da culpa eu entendo, acidentes acontecem. Mas não tem qualquer remorsos por ter morto duas pessoas ? E de ter incapacitado uma mulher ? Que gente é esta ?